O calendário 2026 da corrente O Trabalho homenageia a liberdade de criação artística como uma expressão maior do gênero humano. A atividade artística exige independência e liberdade frente ao Estado e a partidos. Nesse calendário, boa parte das obras escolhidas estão no curso das rupturas produzidas no século 20 com os cânones tradicionais – no terreno das artes plásticas, da literatura ou do nascente cinema. Nesta página, apresentamos alguns dados biográficos das(os) autoras(es) das obras escolhidas e um endereço eletrônico de referência para a obra da(o) artista.
Pablo Picasso (1881-1973)
Começamos por Picasso, nome revolucionário da pintura moderna, sobretudo com a criação do cubismo, a partir de 1907 (pintura Les Demoiselles d’Avignon), em parceria com o francês Georges Braque. Nascido em Málaga (Andaluzia, Espanha), produziu intensamente da juventude à morte. Deixou milhares de obras, incluindo pinturas, esculturas, cerâmicas, colagens e trabalhos com múltiplos materiais. O imenso quadro Guernica é uma obra-prima que denuncia o massacre produzido pelas forças fascistas na Guerra Civil Espanhola.
Para saber mais: pablopicasso.org
Lívio Abramo (1903-1992)
Pintor, desenhista e gravador de renome internacional, Lívio Abramo foi também militante político e sindical brasileiro. Expulso do PCB (Partido Comunista do Brasil) em 1929, por se negar a desenhar Leon Trotsky como agente do imperialismo dos EUA, aderiu à Oposição de Esquerda e à organização trotskista ativa no Brasil na década de 1930, ao lado de seus irmãos Fúlvio e Lélia. Influenciado pelo expressionismo, inaugura a modernidade brasileira na arte das gravuras a partir de 1926. Foi fundador do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Paraguai, onde morou nas últimas décadas de vida.
Para saber mais: enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoas/2501-livio-abramo
Kazimir Malevich (1879-1935)]
Pintor da vanguarda russa, Malevich era de ascendência polonesa. Foi o idealizador do movimento artístico chamado de “suprematismo”, nas décadas de 1910 e 1920. Em seu primeiro período de criação, foi influenciado pelo impressionismo, depois pelo cubismo e o fauvismo. Sua trajetória incorporou elementos da tradição pictórica russa. Junto ao russo Wassily Kandinsky e ao holandês Piet Mondrian, é considerado um dos criadores da arte não-figurativa. Com o suprematismo, a pintura abstrata se vale de formas geométricas simples. Sua primeira exposição ocorre na Moscou revolucionária de 1919. Vive então como professor, e desenvolve textos teóricos. Retorna à arte figurativa a partir da metade dos anos 1920. Em 1929, é acusado pelo regime stalinista de “subjetivismo”, e passa a ser atacado publicamente. Perde suas funções oficiais, é preso e torturado. Morre em 1935 no abandono. Sua obra é redescoberta a partir dos anos 1970.
Para saber mais: theartstory.org/artist/malevich-kasimir
El Lissitzky (1890-1941)
Artista plástico, designer, fotógrafo e arquiteto, El (Lazar) Lissitzky integrou a vanguarda artística russa, particularmente ligado a Kazimir Malevich. Colaborou com inúmeras obras e cartazes para a Revolução Russa e o governo soviético em sua fase inicial, tendo exercido grande influência na linguagem visual do design gráfico do século 20 no mundo todo (particularmente a partir da Bauhaus, da Alemanha, onde foi do corpo da embaixada soviética a partir de 1921). Lissitzky acreditava que o artista poderia ser um agente de mudanças sociais. Manteve-se ativo até o final da vida.
Para saber mais: pt.wikipedia.org/wiki/El_Lissitzky
Candido Portinari (1903-1962)
No panorama da arte moderna brasileira, diretamente influenciada pelos movimentos internacionais, Portinari é considerado por muitos como o principal nome das artes plásticas. Seu panorama da cidade natal que abre o nosso calendário, Paisagem de Brodósqui (SP), retrata a cor vermelha da fértil terra daquela região do Estado e sua presença humana, marcada pelo trabalho da população negra. A obra Descoberta do Ouro volta ao tema do trabalho, enquando Dança de Roda integra o mural Paz (conjunto Guerra e Paz), feito para a sede da ONU. Deixou quase 5 mil obras. Morreu pela intoxicação do chumbo presente nas tintas com as quais trabalhou toda a vida.
Para saber mais: portinari.org.br
Diego Rivera (1886-1957)
Mestre do muralismo mexicano, Diego Rivera teve uma vida intensa marcada pela arte e pela política revolucionária. Após sua etapa de formação, morou na Europa de 1907 a 1921, vivendo a ebulição artística do período. Sua opção pela pintura mural era a escolha por uma arte social, que não ficasse trancada nas paredes de residências privadas. Junto com André Breton, assinou o Manifesto por uma Arte Revolucionária Independente, em 1938 (concebido junto com Leon Trotsky). Seu mural “Sonho de uma Tarde de Domingo na Alameda Central” sofreu censura devido a um cartaz dizendo “Deus não existe”. Após anos sem exibição pública, Rivera retirou o escrito para liberar a obra, enquanto reafirmava publicamente seu ateísmo.
Para saber mais: diegorivera.org
René Magritte (1898-1967)
Pintor belga, Magritte tornou-se um grande expoente da arte surrealista. Formado em artes plásticas e designer profissional de cartazes, passou a fazer obras surrealistas com quase 30 anos. Desenvolveu então um estilo próprio de pintura realista com paradoxos visuais, em cenas marcadas por anomalias, dando vazão a um olhar insólito e poético – e com frequência irônico e engraçado.
Para saber mais: magritte.be
Dziga Vertov (1896-1954)
Cineasta soviético, Vertov (cujo nome original era Denis A. Kaufman, de família judia polonesa) revolucionou a nascente linguagem do cinema, nos anos de 1920, com a ideia do Cine-Olho (Kino-Glaz). Para ele, a lente da câmera revela melhor a realidade do que o olho humano é capaz. Ela adota o nome de Dziga (de origem polonesa) Vertov (com base no russo), com o significado de algo como “vértice que gira sem cessar”. Vertov e Serguei Eisenstein são os dois grandes diretores de cinema da URSS nesse período. Realiza seu filme mais revolucionário em 1929, “Um Homem com uma Câmera”. Marcou o desenvolvimento da linguagem com a teoria do Cinema-Verdade (Kino Pravda), base para o futuro cinema documental.
Para saber mais: vertov.filmmuseum.at
Naji al-Ali (1937-1987)
Chargista palestino, tinha 11 anos quando sua família tornou-se refugiada no Líbano com a criação do Estado de Israel, a Nakba (catástrofe) para os palestinos. Naji começou com seus desenhos nas paredes do campo de refugiados de Ain al-Hilwek, expressando o sofrimento dos palestinos, que ganharam notoriedade. Como chargista, passou a ser uma referência na luta do povo palestino por sua soberania, graças a seus desenhos contundentes, corajosos, honestos e críticos. Produziu cerca de 40 mil charges em sua carreira na imprensa árabe e internacional. Foi assassinado por um desconhecido numa rua em Londres.
Para saber mais: palquest.org/en/biography/14303/naji-al-ali
Oswaldo Goeldi (1895-1961)
Filho de um naturalista suíço, Goeldi nasceu no Rio de Janeiro e passou a primeira infância no Pará. Sua família então retorna à Suíça, onde ele viveu até a idade adulta, voltando ao Brasil em 1919 já como artista plástico, com grande interesse na litogravura e, depois, na xilogravura – que se torna seu principal meio de produção artística. Sua linguagem expressionista e sua estética intimista produziram obras de grande beleza e impacto.
Para saber mais: catalogos.oswaldogoeldi.com.br
Jean-Michel Basquiat (1960-1988)
Artista plástico nascido em Nova York (EUA), Basquiat ganhou renome, inicialmente, como grafiteiro, e depois como pintor neo-expressionista. Filho de pai haitiano e de mãe de família porto-riquenha, começou a grafitar com 17 anos, enquanto sobrevivia como vendedor ambulante. Nesse período, integrou também um conjunto musical. Começou a fazer pinturas, e participou de uma exposição coletiva em 1980. Produzia várias peças com objetos coletados nas ruas. Ganhou relevo com sua obra marcadamente urbana, expressando a rica cultura afro-americana.
Para saber mais: basquiat.com
Tarsila do Amaral (1886-1973)
Nascida no interior paulista, Tarsila foi nome de destaque do movimento modernista no campo das artes plásticas. Artista desde a adolescência, teve sua trajetória marcada pelos estudos em Paris a partir de 1920. Em 1922, ano da Semana de Arte Moderna no Brasil, Tarsila participou do “Salão Oficial dos Artistas da França”. Depois, de volta ao Brasil, ao lado dos escritores Oswald de Andrade e Raul Bopp, inaugurou a estética denominada “Antropofagia”. Sua obra Operários pode ser vista em Campos do Jordão (SP), no Palácio do Governo.
Para saber mais: tarsiladoamaral.com.br
Joan Miró (1893-1983)
Miró, nascido em Barcelona (Catalunha, Espanha), construiu uma obra marcante como pintor, escultor, ceramista e gravurista. Em 1919, após completar os estudos, conheceu Picasso e André Breton em Paris e travou contato com as tendências que emergiam. Em 1925, participou da primeira exposição de obras surrealistas. Abriu seus horizontes artísticos mantendo tradições da arte catalã, como o uso de cores primárias delineadas em preto. Tinha referência também na arte rupestre da pré-história. Apoiou o lado republicano na Guerra Civil Espanhola, contra os franquistas.
Para saber mais: fmirobcn.org